Como o Open Insurance poderá transformar a personalização no novo diferencial competitivo das seguradoras

Por Manuel Matos*

O mercado segurador brasileiro passa por uma transformação profunda, impulsionada pela chegada da terceira fase do Open Insurance. Essa mudança traz consigo novas possibilidades e redefine o papel dos principais agentes envolvidos. Nesse contexto, destaca-se especialmente a atuação das Sociedades Processadoras de Ordem do Cliente (SPOCs), que se consolidam como grandes aliadas estratégicas das seguradoras, permitindo uma evolução significativa rumo à personalização profunda da oferta de seguros.

Historicamente, as plataformas de multicálculo desempenharam um papel fundamental no processo de digitalização das corretoras e seguradoras. Elas possibilitaram comparações rápidas e eficientes entre produtos, contribuindo diretamente para uma dinâmica competitiva baseada, sobretudo, em preços. Esse modelo foi, e ainda é, relevante para grande parte do mercado, especialmente para seguradoras menores e insurtechs que, por limitações estruturais ou estratégicas, continuam apostando na diferenciação por produto e preço como forma de conquistar espaço junto a corretores e consumidores.

No entanto, o Open Insurance, especialmente em sua terceira fase, introduz uma nova dinâmica ao permitir que seguradoras maiores e tecnologicamente mais avançadas evoluam para além da simples competição por preços. Com a utilização de dados consentidos dos consumidores, essas seguradoras têm agora a oportunidade de personalizar profundamente suas ofertas, ajustando produtos e condições às necessidades reais e específicas de cada consumidor. Nesse novo cenário, o preço não perde relevância; pelo contrário, ganha uma nova dimensão estratégica, tornando-se uma expressão justa e precisa do risco efetivamente assumido pela seguradora, e do valor real percebido pelo segurado.

É essencial compreender que o Open Insurance não compete diretamente com corretores de seguros ou outros canais digitais. Sua função é distinta e complementar: ele atua como parte neutra e invisível do ecossistema de seguros, fornecendo às seguradoras uma infraestrutura segura e eficiente para o gerenciamento dos consentimentos exigidos pela regulamentação. As SPOCs possibilitam que as seguradoras explorem de forma mais inteligente os dados consentidos de seus clientes, beneficiando diretamente todos os seus canais de distribuição, em especial seus corretores, que passam a ter acesso a leads altamente qualificados, viabilizando uma combinação poderosa entre venda digital autoassistida e venda consultiva especializada.

Grandes seguradoras já entenderam essa dinâmica e estão rapidamente se alinhando com as SPOCs para fortalecerem simultaneamente seus três principais canais: a venda direta digital, o canal corretor tradicional e o embedded insurance. Essa estratégia possibilita uma operação mais eficiente, ágil e assertiva, com produtos altamente personalizados e serviços mais relevantes, gerando maior satisfação e fidelização dos segurados.

Com isso, o mercado evolui naturalmente para uma nova fase, na qual seguradoras não buscam mais competir exclusivamente por preço ou produto padronizado. O diferencial competitivo passa a ser o entendimento detalhado do consumidor e a capacidade de transformar dados consentidos em inteligência estratégica aplicada à personalização. Assim, as SPOCs tornam-se aliadas estratégicas das seguradoras, viabilizando uma verdadeira hiper personalização e permitindo que o mercado segurador brasileiro avance rapidamente em direção à excelência na experiência do consumidor.

Dessa forma, todos os agentes envolvidos ganham com a transformação proporcionada pelo Open Insurance. Os segurados ganham acesso a seguros mais personalizados e justos, os corretores podem se posicionar como verdadeiros consultores estratégicos, e as seguradoras passam a operar com uma eficiência inédita, sustentada por uma gestão inteligente e segura dos dados consentidos pelos clientes.

Essa é a oportunidade real que o Open Insurance oferece ao mercado brasileiro de seguros, com as SPOCs atuando como peças-chave nesse processo de evolução, ainda em seus primórdios. Aproveitar essa oportunidade é fundamental para qualquer seguradora que deseja permanecer relevante e competitiva na era digital, contribuindo para um futuro no qual o seguro é justo, transparente e profundamente alinhado às reais necessidades e expectativas dos consumidores.

* Manuel Matos é 1º vice-presidente da Fenacor, delegado do Sincor-SP e um dos idealizadores que introduziu os corretores de seguros na oferta de certificados digitais no Brasil. Também é coordenador do Comitê Open Insurance da Camara-e.net, entidade que presidiu durante cinco anos, e fundador da Via Internet Insurance Consulting, uma das empresas pioneiras da Internet no País.