
Capgemini prepara 4ª edição de estudo sobre Open Insurance e abre convite para participação do mercado
8 de setembro de 2025Por Genival de Souza e Silva*
Na última semana, quatro movimentos silenciosos no mercado de seguros revelaram algo que poucos estão vendo… Justamente pela ausência de barulho. Enquanto analistas de mercado se concentram nos números trimestrais e nas manchetes óbvias, eu observo os movimentos laterais. Os que acontecem nas entrelinhas. Os que todos veem, mas poucos compreendem o verdadeiro significado.
Quatro movimentos ocorreram em sequência no mercado de seguros. Independentes à primeira vista. Mas, se analisados com atenção, revelam uma mesma linha de tensão, evolução e urgência estratégica. Veja:
- Pensar Corretora se torna Madalozzo Seguros;
- Alper Seguros adquire a Aio Corretora de Seguros;
- MDS Group Brasil anuncia a aquisição da Abensur Enris;
- Grupo REP confirma a aquisição da Benet, consolidando uma nova vertical especializada em benefícios.
Paralelamente, há poucos dias a Acrisure Brasil oficializou o rebranding da It’sSeg, com meta ambiciosa de dobrar de tamanho nos próximos três anos. Cinco peças aparentemente soltas. Mas quando colocadas lado a lado, algo maior se revela: não estamos apenas vendo uma onda de M&As, estamos testemunhando a reconfiguração do papel do corretor no ecossistema brasileiro.
Isso não é especulação. É pattern recognition aplicado ao mercado de seguros. Não é só consolidação. É redirecionamento. De um lado, vemos o movimento tradicional: corretoras sendo adquiridas, fundidas, reposicionadas, com foco em ganho de escala, sinergia operacional e expansão geográfica. Isso por si só não é novo. Mas o tipo de aquisição mudou, e isso poucos perceberam.
As aquisições recentes não estão mirando apenas volume de prêmios. Estão mirando ativos invisíveis: carteira estratégica, capilaridade em segmentos específicos, posicionamento regional ou know-how técnico em nichos que antecipam tendências. Aliás, a atração de players internacionais como a Acrisure demonstra como o mercado brasileiro se tornou um laboratório de modelos híbridos de crescimento para multinacionais experientes em M&A. Mas é o que acontece fora dos holofotes que mais me interessa, e onde reside a verdadeira transformação.
Um novo modelo de crescimento está emergindo — e ele não depende de ser comprado. Enquanto consultorias se concentram em relatórios sobre M&As tradicionais, eu vejo algo que está se formando nos interstícios do mercado. Silenciosamente, grupos, coletivos e redes de corretores têm se estruturado em uma nova lógica: nem são grandes corretoras comprando outras, nem são franquias clássicas. São modelos híbridos, que combinam mentoria estratégica, governança leve, troca de inteligência de mercado, conexão com seguradoras e techs, plataformas compartilhadas e, principalmente, forte senso de pertencimento.
Nomes como:
- GrupoGC, que mobiliza mais de 140 corretoras preservando autonomia enquanto oferece escala coletiva;
- Grupo Exalt, que redesenhou sua estrutura de apoio com foco em expansão estratégica e posicionamento digital;
- Grupo A12+, que tem ganhado presença em regiões como DF, SP e Nordeste com um modelo de afiliação estratégica e educação continuada;
- Yba Gestão Empresarial Ltda, um dos mais estruturados e seletivos do país, com operação fechada, foco na formação de líderes e modernização de carteiras;
- Lojacorr, com milhares de corretores formando a maior rede de corretores do País, combinando tecnologia, apoio comercial e visão de rede.
Esses grupos, embora ainda em diferentes estágios de desenvolvimento e com modelos distintos, têm algo em comum: eles não compram corretoras — eles as atraem. E isso pode estar mudando o jogo. Enquanto alguns esperam para vender, outros constroem para pertencer A questão não é mais apenas “quanto vale a minha corretora?”, mas “a que tipo de ecossistema minha corretora está conectada?”
Essa é uma mudança de lente que merece atenção. Para muitos corretores, o caminho pode não ser ser comprado — mas ser desejado. Não será vender sua operação — mas integrá-la a algo maior, preservando identidade e autonomia.
Os dados já sinalizam isso. O Relatório Anual M&A Corretoras de Seguros 2025, produzido pela CFI em parceria com a Revista Apólice — reconhecida há 30 anos como uma das principais vozes editoriais do setor no Brasil — foi direto: os corretores que estarão mais preparados para os próximos ciclos não são os que vendem mais hoje, mas os que já estão se reorganizando agora. O relatório identificou uma fragmentação extrema no mercado brasileiro: quase 60 mil corretoras PJ disputando espaço, criando um ambiente propício tanto para consolidação tradicional quanto para os novos modelos híbridos que emergem silenciosamente.
Embora careçamos no Brasil de métricas comparativas sobre performance entre corretoras independentes, adquiridas ou agrupadas, minhas observações de campo por todo o País evidenciam benefícios concretos em cada negócio, em cada corretora mobilizada por esse movimento. Não só em estrutura. Mas em visão.
O que parece pequeno agora será gigante em 2030
Esses movimentos, tanto os grandes anúncios quanto as iniciativas silenciosas, têm algo em comum: são respostas a uma pergunta que poucos estão fazendo com coragem. “Se o meu modelo atual de corretora desaparecer, o que ficará em pé?” Esse é o tipo de pergunta que separa os que reagem dos que reposicionam.
Os que vendem cotações dos que constroem presença. Os que olham para o trimestre dos que miram 2030. A consolidação é inevitável, mas não será igual para todos. Alguns serão adquiridos. Outros absorvidos. Mas um grupo cada vez mais preparado será escolhido. Porque terá feito o dever de casa antes que o mercado exigisse. Esses movimentos não acontecem no vácuo. São respostas diretas aos vetores de transformação que venho enfatizando através da palestra #VISÃO2030:
- A aceleração tecnológica que redefine processos;
- A mudança comportamental dos consumidores digitais;
- O impacto inevitável dos processos sucessórios nas corretoras tradicionais;
- A emergência de novos canais de distribuição;
- A pressão competitiva das fintechs no território dos seguros;
- A relevância iminente do Open Insurance — que está mais próximo do que nunca de ser implementado para valer.
Cada um desses vetores cria urgência estratégica. E urgência gera movimento. O que você faz hoje ainda te posiciona para amanhã? Os movimentos que observei esta semana não são o fim da história. São só o começo. Se você conseguir ver além do óbvio, vai notar que eles formam uma trilha. Uma tendência.
Uma mudança de eixo que redefine o jogo inteiro. Não é sobre “virar grupo”. É sobre entender que, sozinho, a competitividade exigirá investimentos e esforços que poucos corretores antecipam — ou exigirá muito mais do que se imagina para se manter competitivo. O jogo mudou. As regras também. Mas quem tem olhos para enxergar o tabuleiro, já começou a se mover.
* Genival de Souza e Silva é palestrante e sócio fundador do Dhomo Instituto