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Instituída em 2001, a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) é o sistema nacional de certificação digital responsável por garantir autenticidade, integridade e confidencialidade em transações eletrônicas por meio de chaves criptográficas.
Seus certificados digitais, emitidos exclusivamente por Autoridades Certificadoras (ACs) credenciadas, são essenciais em setores críticos como finanças, saúde, governo e judiciário. Reconhecida por sua conformidade legal, a ICP-Brasil assegura validade jurídica a documentos eletrônicos, como contratos digitais e declarações fiscais.
A longevidade da ICP-Brasil não ocorreu por acaso. Sua arquitetura tecnológica, baseada em criptografia assimétrica e aderente a padrões internacionais, foi extensivamente testada ao longo dos anos, resistindo eficazmente a tentativas de violação.
Diferentemente de tecnologias emergentes e ainda experimentais, como biometria comportamental ou autenticação baseada em blockchain, a ICP-Brasil combina simplicidade operacional e escalabilidade sem comprometer sua segurança. Esse equilíbrio a torna uma barreira eficaz contra fraudes digitais, especialmente diante do avanço de ataques sofisticados com Inteligência Artificial (IA), como deepfakes e simulações comportamentais.
Por que a ICP-Brasil está sob ataque?
A robustez da ICP-Brasil incomoda porque sua capacidade de assegurar transações seguras e rastreáveis representa um obstáculo significativo para agentes mal-intencionados que lucram com fraudes digitais.
Esquemas como lavagem de dinheiro, falsificação de identidade e manipulação indevida de dados encontram na certificação digital uma barreira difícil de superar. Essa realidade explica o surgimento frequente de campanhas destinadas a desacreditar a infraestrutura, frequentemente disfarçadas sob o argumento de necessidade de “modernização” ou “inovações disruptivas”.
Essas críticas costumam sugerir erroneamente que a ICP-Brasil é obsoleta, ignorando que seus protocolos criptográficos são continuamente atualizados e estão alinhados às melhores práticas internacionais.
Além disso, a infraestrutura é flexível e pode ser integrada a soluções inovadoras, como carteiras digitais e sistemas descentralizados de identidade digital, sem prejudicar sua integridade e segurança. Portanto, desmantelar ou enfraquecer a ICP-Brasil abriria portas para vulnerabilidades significativas, beneficiando fraudadores em detrimento da sociedade.
Limitações das alternativas experimentais
Tecnologias emergentes como biometria comportamental e autenticação por análise de dados apresentam potencial significativo, mas ainda carecem da robustez já consolidada pela ICP-Brasil.
A biometria comportamental, que utiliza padrões como ritmo de digitação e movimento do mouse, cria assinaturas digitais únicas. Entretanto, esses métodos estão vulneráveis a ataques de IA generativa capazes de reproduzir comportamentos humanos com alta precisão. Pesquisas recentes demonstram que “deepfakes comportamentais” já conseguem enganar sistemas experimentais, representando riscos graves em cenários sensíveis, como transações financeiras.
Além disso, soluções baseadas em comportamento frequentemente enfrentam desafios relacionados a falsos positivos, já que mudanças naturais no comportamento do usuário—provocadas por fatores como estresse ou uso de novos dispositivos—podem bloquear acessos legítimos. A ausência de uma regulamentação clara para essas tecnologias limita significativamente sua adoção em contextos que exigem validade jurídica inequívoca.
Por outro lado, a ICP-Brasil emprega chaves criptográficas exclusivas vinculadas à identidade validada do usuário. Esse modelo robusto elimina a dependência de padrões comportamentais suscetíveis à manipulação e oferece proteção eficaz contra ameaças emergentes, inclusive aquelas associadas à computação quântica, graças às atualizações contínuas em algoritmos criptográficos.
Um chamado à defesa e ao aperfeiçoamento
A ICP-Brasil transcende o papel de mera ferramenta tecnológica; ela é um patrimônio nacional fundamental para a proteção econômica e a confiança em transações digitais. Abandonar sua infraestrutura testada e comprovada equivaleria a substituir uma fortaleza consolidada por defesas frágeis e experimentais. Isso não implica, entretanto, que a infraestrutura não possa evoluir. Críticas construtivas e sugestões para melhorias, como maior acessibilidade aos certificados digitais para populações menos digitalizadas e integração segura com tecnologias inovadoras, são bem-vindas e necessárias.
Defender e aprimorar a ICP-Brasil é garantir segurança digital para toda a sociedade brasileira. Setores estratégicos, como financeiro, saúde e governamental, dependem diretamente de sua estabilidade e segurança operacional. Em um cenário onde fraudes digitais geram prejuízos bilionários, a ICP-Brasil representa uma referência internacional em resiliência tecnológica, simplicidade operacional e eficácia comprovada.
Juntos pela segurança digital
A ICP-Brasil representa mais do que tecnologia; é uma fortaleza contra fraudes digitais. Em vez de questionar sua relevância, devemos fortalecê-la continuamente, integrando inovações com equilíbrio, responsabilidade e rigor técnico. Profissionais do setor, reguladores e cidadãos têm um papel decisivo nesse processo, colaborando ativamente para assegurar que a ICP-Brasil permaneça como um pilar robusto de confiança no ambiente digital brasileiro.
Convidamos todos a refletirem: diante do crescimento exponencial de ameaças cibernéticas, qual seria o impacto de abandonar uma solução robusta e comprovada como a ICP-Brasil? Vamos assegurar o futuro da segurança digital no Brasil com alicerces sólidos, fortalecendo juntos aquilo que protege nosso bem mais precioso: a confiança.
* Manuel Matos é 1º vice-presidente da Fenacor, delegado do Sincor-SP e um dos idealizadores que introduziu os corretores de seguros na oferta de certificados digitais no Brasil. Também é coordenador do Comitê Open Insurance da Camara-e.net, entidade que presidiu durante cinco anos, fundador da Via Internet Insurance Consulting, uma das empresas pioneiras da Internet no País, e idealizador do GuiaOpen.