A competitividade do setor de seguros

Por Manuel Matos*

O setor de seguros, essencial para a estabilidade econômica e social, é um dos mais antigos e resilientes da história financeira mundial. Desde suas origens no século XVII, com os contratos marítimos de Lloyd’s em Londres, até os dias atuais, seguros têm evoluído para atender às necessidades de proteção de indivíduos e empresas em cenários cada vez mais complexos.

Em sua essência, o setor de seguros é movido por dois pilares fundamentais: confiança e competitividade. No Brasil, a evolução regulatória e tecnológica trouxe novas oportunidades e desafios para o mercado, destacando o papel do corretor de seguros como o principal motor da competitividade no setor.

O advento do Open Insurance, regulamentado no Brasil em 2020 e aprimorado pela Resolução CNSP 450/2022, trouxe uma nova dinâmica ao setor. Essa transformação é parte de um movimento global, alinhado com o Open Finance, que integra os setores bancário e de seguros, promovendo maior transparência, inclusão e controle dos consumidores sobre seus dados.

Neste contexto, o corretor de seguros se consolida como um agente essencial para fomentar a competição, eliminar ineficiências e transformar a experiência do cliente. Mais do que isso, ele desempenha um papel estratégico na construção de um mercado mais moderno, acessível e sustentável.

O cenário global e a transformação do setor

O mercado de seguros global enfrenta mudanças profundas, impulsionadas por tendências como digitalização, personalização e maior demanda por transparência. Na Europa, iniciativas como o PSD2 (Second Payment Services Directive) e a evolução do Open Banking abriram caminho para o Open Finance, uma integração entre dados financeiros e de seguros que coloca o cliente no centro das decisões. Nos Estados Unidos, o avanço das insurtechs redefiniu a relação entre seguradoras, corretores e consumidores, promovendo maior agilidade e inovação.

No Brasil, o Open Insurance é a resposta local a esse movimento global. Ele visa democratizar o acesso a seguros, reduzindo custos operacionais e promovendo a concorrência. No entanto, o setor enfrenta desafios estruturais, como sistemas legados, processos burocráticos, alta fragmentação do mercado e a concentração em grandes atores. Neste contexto, o papel do corretor de seguros é mais relevante do que nunca, especialmente ao assumir a função de Sociedade Processadora de Ordem do Cliente (SPOC), conforme preconizado pela já citada Resolução CNSP 450/2022.

A centralidade do corretor de seguros no Open Insurance

Os corretores de seguros são o elo de confiança entre seguradoras e consumidores. Historicamente, eles desempenham um papel essencial na intermediação de contratos, na personalização de produtos e no suporte ao cliente. Com o Open Insurance, essa função se expande, colocando o corretor como um agente de transformação digital e um dos principais motores de competitividade do setor.

Ao serem admitidos como SPOCs pela Resolução CNSP 450/2022, os corretores passaram a ser os principais responsáveis pelo processamento das ordens dos clientes no Open Insurance. Essa regulamentação não apenas reforça a relevância dessa categoria profissional, mas também cria oportunidades inéditas para promover competitividade, apoiar as seguradoras e facilitar a transformação digital.

Aprimoramento do ciclo de vida das apólices

A experiência acumulada dos corretores de seguros posiciona-os como os melhores candidatos para identificar e contribuir com a correção das ineficiências do setor. O mercado de seguros no Brasil ainda sofre com sistemas desatualizados, falta de integração entre plataformas e processos manuais que aumentam os custos globais das transações para todos os atores – corretores, seguradores e segurados.

Corretores, como SPOCs, podem reduzir custos operacionais ao automatizar tarefas, reduzir assimetrias informacionais e eliminar barreiras burocráticas. Também moderniza o ciclo de vida das apólices, desde a cotação até a renovação, além de aprimorar a experiência do cliente, com soluções rápidas e personalizadas.

O “Guardião da Competitividade”

A competitividade é a essência de um mercado de seguros saudável e eficiente. Ela garante que consumidores tenham acesso a produtos e serviços que atendam às suas necessidades específicas de cobertura, ao custo mais adequado. No Brasil, a Resolução CNSP 450/2022 recepcionou os corretores como SPOCs, no Open Insurance, justamente porque reconhece sua importância na preservação da competitividade e seu papel junto aos segurados.

Entre as principais contribuições dos corretores nesse papel, destacam-se:

1) Diversificação de ofertas: corretores garantem que consumidores tenham acesso a uma ampla gama de opções.

2) Redução de barreiras de entrada: pequenas e médias seguradoras se beneficiam da atuação dos corretores, pois encontram nesses profissionais um canal eficiente para distribuição de seus produtos.

3) Fomento à inovação: Ao abraçar o Open Insurance, corretores têm a oportunidade de investir em treinamento, modernizando sua atuação e promovendo soluções mais inovadoras.

Impactos econômicos e sociais

Além de promover a competitividade, a atuação dos corretores de seguros no Open Insurance traz impactos econômicos e sociais relevantes. O setor de seguros, que movimenta bilhões de reais anualmente, torna-se mais eficiente, reduzindo custos operacionais que acabam repassados aos consumidores. Famílias têm maior acesso a seguros, protegendo-se contra riscos e imprevistos, enquanto empresas encontram um mercado mais dinâmico e adaptado às suas necessidades.

No âmbito social, a atuação dos corretores contribui para a inclusão financeira, especialmente ao integrar crédito pessoal e seguros em uma abordagem mais acessível e sustentável. Por meio do Open Finance, que combina Open Banking e Open Insurance, os corretores podem oferecer soluções personalizadas que combinam proteção patrimonial e planejamento financeiro, aumentando a resiliência das famílias e reduzindo a inadimplência.

A história do setor de seguros mostra que competitividade e inovação caminham lado a lado. No Brasil, o Open Insurance, representa um novo capítulo dessa história, onde os corretores de seguros assumem o papel de protagonistas. Atuando no Open Insurance, eles têm a capacidade de transformar o mercado, eliminando ineficiências, reduzindo custos e promovendo maior inclusão e acessibilidade.

Ao combinar sua experiência prática com o uso de tecnologias emergentes, os corretores de seguros se consolidam como o motor da competitividade do setor. Mais do que intermediários, eles são consultores estratégicos, guardiões da confiança e catalisadores da modernização. Em um momento de transição global, o setor de seguros brasileiro tem no corretor seu maior ativo para construir um mercado mais justo, eficiente e preparado para os desafios do futuro.

* Manuel Matos é 1º vice-presidente da Fenacor, delegado do Sincor-SP e um dos idealizadores que introduziu os corretores de seguros na oferta de certificados digitais no Brasil. Também é coordenador do Comitê Open Insurance da Camara-e.net, entidade que presidiu durante cinco anos, e fundador da Via Internet Insurance Consulting, uma das empresas pioneiras da Internet no País.