Comitê Open Insurance da camara-e.net lança portal sobre seguro aberto
31 de julho de 2024Bancassurance: o desafio aos corretores de seguros e a esperança no Open Insurance
5 de agosto de 2024Por Robson Machado*
A revolução digital tem sido um catalisador de mudanças profundas em diversos setores, e o mercado de seguros não é exceção. Nos últimos anos, temos testemunhado uma transformação significativa em produtos e serviços, que são progressivamente aprimorados para oferecer maior conveniência, satisfação e proteção ao consumidor. Neste contexto, surge o Open Insurance, uma iniciativa que representa uma revolução para o consumidor de produtos de seguros, promovendo maior transparência, competitividade e acessibilidade.
O Open Insurance, iniciado em 2021, está sendo implementado em etapas cuidadosamente planejadas. A primeira fase concentrou-se na construção das definições normativas, seguida pelos esforços junto às seguradoras para a construção das interfaces que permitem a interação com os demais participantes. Agora, desde o início de 2024, com o credenciamento dos primeiros corretores SPOC (Sociedade Processadora de Ordem do Cliente), entramos na fase final da empreitada. Este momento crucial exige que os corretores analisem cuidadosamente o cenário para tomar decisões estratégicas sobre sua participação nesta nova cultura.
É importante ressaltar que o Open Insurance não traz benefícios apenas para o consumidor. Considerando os recursos previstos em sua arquitetura, esperam-se grandes vantagens para toda a cadeia envolvida no setor, em especial para o corretor de seguros. Com o acesso ampliado aos dados do cliente e a novos produtos, além da possibilidade de automação de diversos processos até então realizados de forma manual (ou semi-digital), o corretor tem a oportunidade de ampliar significativamente a capacidade e a qualidade de seu atendimento, criar ofertas personalizadas e potencializar seus negócios.
A adaptação à mudança: Um desafio e uma oportunidade
O mundo sempre esteve em processo de mudança e evolução, mas até poucos anos, seu ritmo não nos impactava tanto. As mudanças mais profundas podiam levar décadas ou mesmo gerações para se consolidarem. Nossa geração, no entanto, vive uma era de “despertar” sem precedentes na história. Vivemos um momento ímpar de desenvolvimento da sinergia entre os mundos físico e digital, onde práticas que há pouco tempo eram corriqueiras hoje parecem lembranças nostálgicas de um passado distante.
Esta aceleração das mudanças coloca nossa geração em uma encruzilhada: devemos temer o novo e lutar pelo retorno à zona de conforto, ou encarar os desafios de nos adaptarmos e estarmos preparados para enfrentar essas mudanças a cada dia? A decisão não é fácil, mas é crucial. Manter a condição atual pode parecer vantajoso a curto prazo, mas a longo prazo pode significar nadar contra a maré. Aguardar para tomar a decisão pode nos fazer perder a oportunidade de sair na frente e de nos beneficiarmos das novas possibilidades.
Tecnologia: Ferramenta de progresso, e não a culpada pela mudança
É fundamental entender que a tecnologia, por si só, não é responsável pelas mudanças. Não é razoável pensar que qualquer ideia ou ferramenta possa progredir por si só ou ser capaz de causar mudanças. O verdadeiro motor da evolução é a capacidade humana de entender os anseios do consumidor e utilizar ferramentas para atendê-los, criando iniciativas que serão naturalmente aceitas e conduzidas ao sucesso pelo próprio comportamento e adesão de seus usuários e consumidores.
A história da Internet é um exemplo claro disso. Em seu surgimento, era utilizada apenas como infraestrutura para a troca de mensagens de texto, e-mails, informações acadêmicas ou uso recreativo. Ao longo dos anos, a engenhosidade e a adaptabilidade das pessoas permitiram utilizar a Internet para comunicação global, comércio eletrônico, acesso instantâneo à informação e, nos dias de hoje, até mesmo para o treinamento de inteligências artificiais e a criação dessa poderosa infraestrutura do Open Insurance.
Lições da história empresarial
Olhar para o passado pode nos mostrar muito de nosso futuro, e a história empresarial recente nos oferece valiosas lições sobre a importância da adaptação tecnológica. Casos emblemáticos como o da Kodak, Blockbuster, Nokia e BlackBerry ilustram as consequências de falhar em se antecipar e se adaptar às mudanças do mercado:
- A Kodak, líder na indústria de filmes fotográficos, falhou em se adaptar à transição para a fotografia digital, mesmo tendo inventado a primeira câmera digital em 1975. A empresa relutou em investir na tecnologia por medo de canibalizar seu negócio de filmes e, em 2012, pediu falência.
- A Blockbuster, uma das maiores locadoras de vídeos do mundo, não conseguiu se adaptar ao modelo de streaming de vídeo. A empresa teve a oportunidade de comprar a Netflix por 50 milhões de dólares em 2000, mas rejeitou a oferta. Em 2010, a Blockbuster pediu falência.
- A Nokia, líder no mercado de telefones móveis, subestimou a transição para smartphones. A empresa não conseguiu competir com a evolução, o que culminou na venda de sua divisão de telefonia móvel para a Microsoft em 2014.
- A BlackBerry, líder no mercado de smartphones corporativos, falhou em antecipar a popularidade dos smartphones com telas sensíveis ao toque e sistemas operacionais mais avançados como o iOS e o Android.
Estes exemplos demonstram que mesmo empresas líderes em seus setores podem perder relevância se não acompanharem a evolução tecnológica e as mudanças nas demandas do mercado. O caminho para o sucesso no novo cenário A chave para o crescimento reside no aprendizado contínuo, na criatividade e na capacidade humana de utilizar suas experiências e conhecimentos para resolver problemas, adaptando-se a novas circunstâncias e transformando desafios em instrumentos de desenvolvimento, inovação e sucesso empresarial.
Como Peter Drucker sabiamente observou, “A maior habilidade do século XXI será a capacidade de aprender novas habilidades, tudo o mais se tornará obsoleto com o tempo”. Esta frase resume perfeitamente o desafio e a oportunidade que temos diante de nós.
A revolução digital é uma realidade inegável e em constante crescimento. Nunca estivemos tão expostos a tantas mudanças culturais e empresariais, mas também nunca tivemos acesso a tantas possibilidades de crescimento e aprendizado como temos hoje. Para os profissionais do mercado de seguros, especialmente os corretores, o Open Insurance representa uma oportunidade única de crescimento e inovação. No entanto, para aproveitar plenamente essas oportunidades, é necessário um esforço consciente de adaptação e aprendizado contínuo.
Não podemos mais justificar nossa inércia em tomar decisões acertadas pela falta de informação. É crucial buscar conhecimento na Internet, nas inteligências artificiais, em empresas especializadas em consultoria Open Insurance, e refletir sobre a evolução do cenário do mercado segurador.
Portanto, a mensagem final é clara: abrace a mudança, busque o conhecimento e esteja pronto para transformar os desafios em oportunidades no novo mundo do Open Insurance. É nos momentos de decisão que o destino é moldado. Ao falhar em se preparar, estamos nos preparando para falhar.
* Robson Machado é integrante do Comitê Open Insurance da camara-e.net, especialista em governança de sistemas, segurança da informação e certificação digital, com mais de 30 anos de experiência no mercado de seguros. Bacharel em Administração e pós-graduado em Redes de Computadores, também é escritor. Atuou como CIO na Via Internet Insurance Consulting, teve participação ativa na COTEC do Comitê Gestor da ICP-Brasil e presidiu a ONG Nação Digital.